Incrível como em apenas três anos o Benfica desfez um plantel e construiu outro
Nenhum dos outros grandes em Portugal sofreu sangria tão profunda em apenas três anos como a que sofreu a águia que até mudou de treinador

Fez em setembro exatamente três anos (apenas três anos, caro leitor) que o Benfica jogou em Famalicão a primeira jornada do campeonato 2020/2021 e, por sinal, goleou por 5-1. Era o primeiro ano da pandemia, que muito afetou, como nos recordamos, o futebol em todo o mundo. As águias levaram então 20 jogadores para o relvado dos famalicenses, 11 no campo e 9 no banco, para um jogo, recorde-se, sem público devido, precisamente, à Covid-19.
Desses 20 jogadores, sabe quantos restam hoje na Luz? Um. Apenas um. Rafa Silva!
Foi uma sangria e tanto em apenas três anos e na Luz já nem o treinador é o mesmo que era em 2020.
Sporting, vencedor daquele campeonato, e FC Porto conservam não apenas os treinadores como mais jogadores. E bem sabemos como em qualquer organização é essencial a estabilidade e alguma continuidade para o trabalho criar raiz, cultura, química e, de certo modo, mística. Ou alguém tem dúvidas sobre a importância num balneário da experiência e do tempo de casa?…
Sem comentários, vejamos apenas factos.
Daquela 1.ª jornada, em Famalicão, apenas Rafa resiste no Benfica dos 20 jogadores que Jorge Jesus levou então para o jogo. Além de Rafa, do plantel de 2020/2021 mantêm-se hoje na Luz Morato e Chiquinho, mais Otamendi (que chegou ao Benfica no final de setembro de 2020, envolvido na operação que levou à saída de Rúben Dias para o Manchester City). Quatro jogadores no total.
Na mesma 1.ª jornada, em setembro de 2020, o FC Porto recebeu e bateu o SC Braga, por 3-1. Dos 20 jogadores da ficha de jogo, ainda sobram seis (Pepe, Diogo Costa, João Mário, Zaidu, Taremi e Evanilson), e mantém-se como se sabe, o treinador Sérgio Conceição. Mas a conta aumenta quando falamos do plantel dessa época para o atual: 12 jogadores estão ainda hoje no balneário do Dragão – Diogo Costa, Cláudio Ramos, Pepe, Marcano, Zaidu, João Mário, Grujic, Taremi, Evanilson e Toni Martínez, mais os entretanto regressados Romário Baró e Francisco Conceição.
Já o Sporting jogou essa 1.ª jornada apenas em outubro (3-1 ao Gil Vicente) e da mesma ficha de jogo com 20 atletas conserva ainda hoje oito jogadores (Adán, Neto, Coates, Pedro Gonçalves, Nuno Santos, Gonçalo Inácio, Daniel Bragança e Eduardo Quaresma). Mas do plantel de 2020/2021 mantêm-se igualmente Dario Essugo e Paulinho, que os leões recrutaram a meio daquela temporada. Em Alvalade, também o treinador é o mesmo, Rúben Amorim, campeão, aliás, naquela temporada!
O tão reduzido número de jogadores (com novo treinador) que após três anos permanecem no Benfica ajudará certamente a explicar parte das dificuldades na construção da equipa. Desfazer, quase por completo, um plantel e criar um novo em tão pouco tempo tem um preço. E o preço, normalmente, é o da instabilidade.
Numa equipa de futebol, mudar demasiado é, por hábito, sinónimo de dificuldade e nada é mais difícil do que construir uma equipa sem base ou com base mínima de jogadores que permaneçam ano após ano.